A gravidez foi um sobressalto. Entre ameaças de aborto devido a várias perdas de sangue no 1º Trimestre, a contrações falsas mas constantes e incomodativas a partir das 20 semanas de gravidez. O parto foi assustador e longo… Acabou por nascer por ventosa e saudável . Naquele momento só isso importava.

A Beatriz foi uma bebé muito desejada e trouxe com ela muitos desafios como mãe de primeira viagem.

No pós-parto tinha imensas dúvidas sobre a amamentação, sobre os cuidados ao bebé, o sono, o choro e as cólicas. Fui lendo e estudando, tentando dar o meu melhor, mas na altura desejava ter tido ajuda para não me sentir tão perdida. Ela tinha refluxo moderado, chorava a toda a hora, mal dormia… ela e eu… Amamentei até aos 4 meses e meio e depois “fiquei sem leite”, e senti-me a pior mãe do mundo.

Em 2018 decidimos em casal que era altura de regressar a Portugal para estarmos mais próximos da família.

Em 2016 o mundo ganhou outro significado: fui mãe!

Nesse mesmo ano, em 2018 decidi que estava na altura de arriscar na minha formação e tirar a Especialidade de Saúde Materna e Obstetrícia. Em 2020, em pleno Covid, terminei e tornei o meu sonho realidade!

Apenas alguns meses depois descobri que estava grávida novamente. Íamos ser pais outra vez e não podíamos estar mais felizes.

A 2ª gravidez foi muito mais difícil…

Tive desconfortos intensos logo no início do 2º Trimestre e no 3º Trimestre descobri que tinha colo curto e ficar em repouso absoluto em casa e medicação. A Beatriz tinha 4 anos e tivemos de reinventar as brincadeiras.

Às 37 semanas de Gravidez, numa consulta de rotina Obstetra, acabei por ficar internada por sofrimento fetal.

Entretanto com o stress, acabei por entrar em trabalho de parto, mesmo sem indução. A Íris acabou por nascer pouco depois da meia noite desse mesmo dia, saudável.

Mas o nosso mundo desabou nessa manhã. A Íris começou a ter hipoglicemias e teve de ser transferida para a neonatologia.

Desse dia em diante, todos os dias temíamos que a nossa bebé não aguentasse… Com 3 dias de vida foi diagnosticada com uma sépsis grave e uma Enterocolite Necrotizante. Com 10 dias de vida teve de remover parte do intestino perfurado e ficou 6 semanas com uma ileostomia por onde saíam as fezes. Esteve internada 74 dias no total, sedada e ventilada metade desses dias, foi operada 6 vezes, as transfusões e antibióticos perdi a conta quantos foram. Foram meses de grande sofrimento e muitas semanas de isolamento só eu e ela. Estávamos em isolamento Covid, não eram permitidas visitas.

A pequena lutadora Íris ainda nos deu um grande susto antes da última cirurgia, que seria já a última antes de vir para casa e em que corria menor risco de vida.

No pós-operatório senti que ela não estava bem, chamei por ajuda e a minha filha entrou em peri-paragem cardiorrespiratória, no meu colo.

Felizmente após acordar do coma induzido, não ficou com sequelas, como se previa inicialmente. No que respeita à amamentação, senti uma força tremenda para não desistir de amamentar, no meio disto tudo, consegui manter o leite com bomba. Apesar de ter mamado na 1ª hora de vida e algumas vezes nessa noite, a verdade é que depois ela só voltou a mamar com quase 3 meses de vida e às escondidas da médica. Estava em dieta zero e alimentação pela veia. Mas ela procurava incansavelmente a mama sempre que estava no meu colo e o meu instinto foi amamentá-la. E sabem o que diz ainda hoje essa mesma médica?

“O seu leite é que salvou esta menina de ser dependente de alimentação parentérica para o resto da vida”

Hoje a Íris é uma criança saudável e cheia de vida! E orgulho-me de dizer que ainda mama com 2 anos e meio.

Eu desejei todos estes anos, desde a Beatriz, ter tido alguém especializado na área de Saúde Materna e Obstetrícia ao meu lado quando estive grávida e fui mãe. Por isso, agora, eu quero ser essa pessoa. Essa pessoa que está lá para te ajudar a adaptares-te às alterações da gravidez, a preparares o teu parto, a planeares e vivenciares o teu pós-parto sem receios, olhando sempre para aquilo que são as tuas verdadeiras necessidades e as da tua nova família.

Em 2023, chegou finalmente a altura de ajudar famílias a terem uma transição para a parentalidade mais tranquila, informada e gratificante.

Não precisam de passar pela tempestade, para ver o arco-íris!